quinta-feira, 4 de novembro de 2010

O MEDO DO MEDO

Não é de hoje que posições ideológicas ou pontos de vista são robustecidos com argumentos emocionais. No âmbito público, temos os exemplos de grandes oradores, mártires, líderes religiosos, políticos e ditadores; na vida privada, os filhos, os pais, os netinhos, os amores, os times e os comerciais; até mendigos, pedintes, estelionatários e trambiqueiros lançam mão de emoções para nos convencer de algo.

Nesta arte de usar emoções para convencer, uma delas me amedronta. O medo! Tenho medo do medo.

O medo tem começo, tem meio, mas, nem sempre tem fim. Atinge a mente e o coração nas suas formas físicas e metafísicas, e em algumas pessoas o medo se revela pelo intestino, pela bexiga, pelo estômago e até pela pele. Desnecessário aprofundar tais detalhes.

Tenho medo do medo porque, quem o tem e não o reconhece corre o risco de interpretá-lo como antônimo de coragem. Coragem é antídoto do medo e não antônimo. Ter medo evita estupidez, previne acidentes, impede tragédias e salva vidas.

E, por isso, os argumentos que mexem com a emoção do medo são mais simples de articular e de entender; são usados por pessoas que têm preguiça de argumentar, ou não têm esta capacidade; e são sempre bem recebidos pelos que não têm inteligência suficiente para escutar e processar argumentos bem elaborados.

Na campanha política não foi diferente. Uns não queriam determinada pessoa na presidência porque tinham medo da legalização do aborto; outros, porque temiam o retrocesso de determinada política; outros tantos tinham medo de representantes do demônio no comando do país, medo de mulher, de casamento gay, de velho, de militares, das elites, dos marqueteiros, de terroristas e de reacionários; mas não vi ninguém com medo da falta de propostas concretas e medo da superficialidade dos debates frios e sem enfrentamentos.

Exatamente aí reside meu medo. Os eleitores decidiram seus votos pelo medo daquilo que não queriam, e não na aposta daquilo que desejam. E isto já foi percebido há muito tempo pelos marqueteiros, desde aquele duelo famoso entre o medo e a esperança, protagonizado por uma atriz.

Nesta esteira, surge o medo dos políticos batizados de ficha suja. São os bodes expiatórios da hora. Pessoas que se acham mais evoluídas têm medo do voto dos nem tão evoluídos e impõem regras para que o voto seja “livre nos limites da liberdade”.

Mas, se os limites da liberdade do voto livre encontrarem entrave na Constituição, o medo das urnas justifica o atropelo da Lei Maior. Vejo em todos os argumentos a favor da Lei da Ficha Limpa a sombra do medo de que o eleitor não saiba votar.

Esse tem sido o discurso dos pseudo arautos da honestidade e dos paladinos da justiça, comprometidos exclusivamente com a repercussão pública de suas palavras e com a opinião que interessa à parcela populista da imprensa forjadora de opinião.

Ou respeitamos os direitos fundamentais e a Constituição de forma inteligente ou nos redemos à covardia de quem não sabe pensar, apenas repetir o discurso que interessa àqueles que têm o poder de manipular as emoções e paixões desprovidas de inteligência, mas regadas pelo medo.

2 comentários:

jd disse...

Muito bom!!!
Bem vindo ao mundo multi-angular da blogosfera.
Vou linkar o blog lá no Bloguilhéu!

Gerson Santos disse...

Bem vindo, nobre avaiano.