quarta-feira, 10 de novembro de 2010

LIÇÕES

Hoje meu filho completa seis anos. Queria falar dele talvez para prestar uma homenagem, mas não vou fazer porque ele não quer homenagens, quer presentes, sem saber que eventualmente são sinônimos.

Quer presentes porque é assim que acha que as pessoas podem demonstrar algum afeto, e não porque quer aumentar a coleção de Hot Wheels ou Max Steel, tanto que ontem ao chegarmos em casa, tinha um cartão de Feliz Aniversário enviado pelo correio pela bisavó Margarida, muito mais valioso do que a caderneta de poupança que ela mantém para ele desde que nasceu. Mais uma lição. Mas de qualquer forma, uma homenagem aqui seria, com razão, desprezada por ele, por razões óbvias.

Então só restou falar de mim. Sou um cara em processo de amadurecimento. Dou mais atenção a argumentos infantis e desprezo mais a importância do quarto arrumado. O piso do banheiro encharcado não me irrita mais tanto. Só hoje reaprendi que o sofá foi feito para colocar os pés e para servir de trampolim. Havia esquecido que a comida fica mais gostosa em frente à televisão e melhor ainda se o queixo estiver lambuzado de molho de macarrão e que toalha molhada no chão não é crime, basta mandar juntá-la.   

Lembrei também de vários princípios básicos da vida feliz: Pica-Pau é melhor que Jornal Nacional; tirar meleca com o dedo é mais legal que com um lenço; fazer xixi, só quando não dá mais pra segurar; banho é desnecessário quando o suor já secou; brincar é compromisso sério e inadiável; cumprir promessa é sagrado; brócolis e fígado não são comidas, são no máximo remédios; chuva não é veneno e escovar os dentes antes de dormir é chato pra dedéu, mas reduz o contato com aqueles monstros assustadores de máscara e broca na mão.

Seis anos e esse pirralho já me deu todas estas lições. Não quero nem pensar aos doze...

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